quarta-feira, 12 de junho de 2013

A DEVOÇÃO AO CORAÇÃO



 Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus vai muito além do que poderia parecer à primeira vista. Para quem se contenta com as aparências e fica na superficialidade, talvez pareça suficiente usar a fita do Apostolado da Oração e comungar nas primeiras sextas-feiras de nove meses seguidos.

Mas não é bem assim. Quando corretamente entendido, o culto ao Coração de Jesus constitui o centro e o cume da vida cristã. Pode-se até dizer que, quem encontrou seu sentido e valor, muda radicalmente sua maneira de encarar a vida, e entra numa dimensão onde a liberdade, a paz, o amor e a alegria passam a constituir o seu “pão de cada dia”.

O motivo é simples: ao receber esse dom, ele descobre que o Coração de Jesus é uma “fornalha ardente de caridade, cheio de bondade e de amor”, como rezam as Ladainhas compostas em sua homenagem. Elas refletem a experiência mais importante que um ser humano pode fazer, assim descrita por um antigo salmista: «Deus é indulgente e favorável, paciente, bondoso e compassivo. Não fica sempre repetindo as suas queixas, nem guarda eternamente a sua mágoa. Não nos trata como exigem as nossas faltas, nem nos pune segundo as nossas culpas. Quanto o céu se eleva por sobre a terra, tanto é grande seu amor por aqueles que o buscam. Quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe de nós os nossos crimes. Como um pai se compadece de seus filhos, ele tem compaixão dos que o procuram. Pois ele sabe de que barro somos feitos e sempre se lembra do pó que somos todos» (Sl 103, 8-14).

Mas, para acolher e saborear essa estupenda realidade, o caminho mais curto, para não dizer único, passa pelos irmãos que Deus coloca ao nosso lado, aproximando-nos de cada um e tratando-o como ele o faz em relação a nós. É o que acontece quando dizemos, mais com atitudes do que com palavras, a todos os que nos procuram em busca de compreensão e apoio: «Venham a mim, todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso!» (Mt 11,28). Seremos confortados e aliviados de nossos pesos na mesma medida em que ajudarmos os nossos semelhantes a carregarem os seus fardos.

Quanto mais pura e profunda for sua comunhão com o próximo, maior é chance que o homem tem para chegar a Deus. Não há dúvida: a oração lhe fortalece o espírito e a penitência lhe purifica a alma. Mas somente o amor a quem caminha com ele o fará alcançar diretamente o coração de Deus.

Deus faz de cada um de seus filhos um “anjo da guarda”. À pergunta de Caim: «Sou eu o guarda do meu irmão?» (Gn 4,9), a única resposta possível é “sim!”. É por isso que os devotos do Sagrado Coração de Jesus se distinguem por estarem presentes em todas as iniciativas destinadas a buscar e promover a quem se encontra à margem da Igreja e da sociedade. Com seus gestos de benevolência, oferecem a Jesus a alegria de realizar a missão que o trouxe ao mundo: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício, pois não vim para chamar os justos, mas os pecadores» (Mt 9,9).

A misericórdia foi sempre a força que sustentou o Papa Francisco desde a sua juventude, como revelou no primeiro “Ângelus” que rezou com o povo, no domingo, dia 17 de março de 2013: «O rosto de Deus é de um pai misericordioso, um pai que tem sempre paciência para conosco. Paciência que é misericórdia, que nos compreende, nos espera e nunca se cansa de nos perdoar se soubermos voltar a ele de coração contrito. “Grande é a misericórdia do Senhor”, diz o Salmo. A misericórdia muda tudo, muda o mundo. Um pouco de misericórdia torna o mundo menos frio e mais justo. Precisamos compreender essa misericórdia de Deus, este pai misericordioso, que tem tanta paciência... Lembremos o profeta Isaías: ele afirma que, mesmo se os nossos pecados fossem vermelhos, o amor de Deus os tornará brancos como a neve. Ele nunca se cansa de perdoar. Somos nós que, às vezes, nos cansamos de pedir perdão. Aprendamos, nós também, a sermos misericordisos com todos».

Não foi por nada que, ao ser eleito papa, ele conservou o mesmo lema que escolhera no dia de sua ordenação episcopal: “Miserando atque eligendo”. Descobriu-o na conversão e vocação de Mateus: ao invés de julgá-lo e condená-lo, Jesus “teve compaixão dele e o escolheu”. É sempre assim que Deus se relaciona com seus filhos...

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