Fonte: CNBB
Na
tarde deste domingo, 7 de abril, Papa Francisco tomou posse da sua
Cátedra na Basílica de São João de Latrão, a Catedral de Roma, com uma
solene cerimônia na qual ressaltou a paciência e a misericórdia de Deus.
Chegando à Basílica a bordo do papamóvel
em meio ao entusiasmo dos fiéis e peregrinos presentes que o
aguradavam, pouco antes, o Santo Padre abençoara, na praça diante do
vicariato, a placa toponomástica que muda o nome do lugar para "Praça
João Paulo II, Pontífice de 1978 a 2005".
Na sua homilia, comentando as leituras
do dia, falou da relutância de Tomé em acreditar nos demais apóstolos,
quando lhe dizem «Vimos o Senhor».
E qual é a reação de Jesus? A paciência:
Jesus não abandona Tomé, não fecha a porta, espera. E Tomé acaba por
reconhecer a sua própria pobreza, a sua pouca fé. Também Pedro renegou
por três vezes Jesus. Quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus
que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da
tua fraqueza, confia em Mim».
“Como é belo este olhar de Jesus! Quanta
ternura! Irmãos e irmãs, jamais percamos a confiança na paciente
misericórdia de Deus!” – exortou o Pontífice.
Este é o estilo de Deus: não é
impaciente como nós, que muitas vezes queremos tudo e imediatamente,
mesmo quando se trata de pessoas. Ele é paciente conosco, porque nos
ama; e quem ama compreende, espera, dá confiança, não abandona, não
corta as pontes, sabe perdoar.
“Recordemo-lo na nossa vida de cristãos:
Deus sempre espera por nós, mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está
longe e, se voltarmos para Ele, está pronto a abraçar-nos.”
Todavia, destacou Francisco, a paciência
de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele, qualquer
que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida.
Talvez alguém possa pensar: o meu pecado
é tão grande, o meu afastamento de Deus é como o do filho mais novo da
parábola, a minha incredulidade é como a de Tomé; não tenho coragem para
voltar, para pensar que Deus me possa acolher e esteja à espera
precisamente de mim.
“Mas é precisamente por ti que o Senhor espera!” – disse com veemência o Papa e continuou: “Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta Dele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante.”
“Mas é precisamente por ti que o Senhor espera!” – disse com veemência o Papa e continuou: “Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Ouvimos tantas propostas do mundo ao nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a proposta Dele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números; somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante.”
É precisamente sentindo o meu pecado,
disse o Papa, olhando o meu pecado que posso ver e encontrar a
misericórdia de Deus, o seu amor, e ir até Ele para receber o seu
perdão.
“Amados irmãos e irmãs, deixemo-nos
envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que
sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar
nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua
misericórdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura, sentiremos o seu
abraço, e ficaremos nós também mais capazes de misericórdia, paciência,
perdão e amor.”
A posse da Cátedra foi feita logo no
início da Missa. Depois, alguns representantes da diocese manifestaram,
em nome da Igreja de Roma, a obediência e a filial devoção ao próprio
bispo.
Na Missa de início de pontificado, a
obediência foi prestada por seis cardeais, representando todo o Colégio
Cardinalício. Desta vez, na Catedral da Diocese de Roma, foi prestada
por representantes de vários membros da comunidade eclesial: o
cardeal-vigário, um bispo auxiliar, um pároco, um vice-pároco, um
religioso, uma religiosa, uma família e dois jovens (uma moça e um
rapaz).
Concelebraram com o Santo Padre o
Vigário de Roma, Card. Agostino Vallini, o Vigário emérito, Card.
Camillo Ruini, o conselho episcopal da diocese e o conselho dos párocos
prefeitos.
Antes de deixar a Basílica o Santo Padre
assomou à sacada da Igreja-Catedral para mais uma vez saudar os
milhares de fiéis que, em clima de festa, aguardavam-no do lado de fora.
Francisco pediu orações dizendo precisar muito das orações dos fiéis
convidando-os a caminharem junto, povo e bispo. Por fim, concedeu mais
uma vez a sua Bênção.
Leia na íntegra, a homilia:
Amados irmãos e irmãs!
Com alegria, celebro pela primeira vez a Eucaristia nesta Basílica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma. Saúdo a todos vós com grande afecto: o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, o Presbitério diocesano, os Diáconos, as Religiosas e os Religiosos e todos os fiéis leigos. Caminhamos juntos na luz do Senhor Ressuscitado.
Com alegria, celebro pela primeira vez a Eucaristia nesta Basílica Lateranense, a Catedral do Bispo de Roma. Saúdo a todos vós com grande afecto: o Cardeal Vigário, os Bispos Auxiliares, o Presbitério diocesano, os Diáconos, as Religiosas e os Religiosos e todos os fiéis leigos. Caminhamos juntos na luz do Senhor Ressuscitado.
1.Hoje celebramos o Segundo Domingo de Páscoa, designado também «Domingo da Divina Misericórdia». A misericórdia de Deus: como é bela esta realidade da fé para a nossa vida! Como é grande e profundo o amor de Deus por nós! É um amor que não falha, que sempre agarra a nossa mão, nos sustenta, levanta e guia.
2.No Evangelho de hoje, o apóstolo Tomé
experimenta precisamente a misericórdia de Deus, que tem um rosto
concreto: o de Jesus, de Jesus Ressuscitado. Tomé não se fia nos demais
Apóstolos, quando lhe dizem: «Vimos o Senhor»; para ele, não é
suficiente a promessa de Jesus que preanunciara: ao terceiro dia
ressuscitarei. Tomé quer ver, quer meter a sua mão no sinal dos cravos e
no peito. E qual é a reacção de Jesus? A paciência: Jesus não abandona
Tomé relutante na sua incredulidade; dá-lhe uma semana de tempo, não
fecha a porta, espera. E Tomé acaba por reconhecer a sua própria
pobreza, a sua pouca fé. «Meu Senhor e meu Deus»: com esta invocação
simples mas cheia de fé, responde à paciência de Jesus. Deixa-se
envolver pela misericórdia divina, vê-a à sua frente, nas feridas das
mãos e dos pés, no peito aberto, e readquire a confiança: é um homem
novo, já não incrédulo mas crente.
Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim». E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus!
Recordemos também o caso de Pedro: por três vezes renega Jesus, precisamente quando Lhe devia estar mais unido; e, quando toca o fundo, encontra o olhar de Jesus que, com paciência e sem palavras, lhe diz: «Pedro, não tenhas medo da tua fraqueza, confia em Mim». E Pedro compreende, sente o olhar amoroso de Jesus e chora... Como é belo este olhar de Jesus! Quanta ternura! Irmãos e irmãs, não percamos jamais a confiança na paciente misericórdia de Deus!
Pensemos nos dois discípulos de Emaús: o
rosto triste, passos vazios, sem esperança. Mas Jesus não os abandona:
percorre juntamente com eles a estrada. E não só; com paciência, explica
as Escrituras que a Si se referiam e pára em casa deles partilhando a
refeição. Este é o estilo de Deus: não é impaciente como nós, que muitas
vezes queremos tudo e imediatamente, mesmo quando se trata de pessoas.
Deus é paciente connosco, porque nos ama; e quem ama compreende, espera,
dá confiança, não abandona, não corta as pontes, sabe perdoar.
Recordemo-lo na nossa vida de cristãos: Deus sempre espera por nós,
mesmo quando nos afastamos! Ele nunca está longe e, se voltarmos para
Ele, está pronto a abraçar-nos.
Sempre me causa grande impressão a leitura da parábola do Pai misericordioso; impressiona-me pela grande esperança que sempre me dá. Pensai naquele filho mais novo, que estava na casa do Pai, era amado; e todavia pretende a sua parte de herança; abandona a casa, gasta tudo, chega ao nível mais baixo, mais distante do Pai; e, quando tocou o fundo, sente saudades do calor da casa paterna e regressa. E o Pai? Teria ele esquecido o filho? Não, nunca! Está lá, avista-o ao longe, tinha esperado por ele todos os dias, todos os momentos: sempre esteve no seu coração como filho, apesar de o ter deixado e malbaratado todo o património, isto é, a sua liberdade; com paciência e amor, com esperança e misericórdia, o Pai não tinha cessado um instante sequer de pensar nele, e logo que o vê, ainda longe, corre ao seu encontro e abraça-o com ternura – a ternura de Deus –, sem uma palavra de censura: voltou! Deus sempre espera por nós, não se cansa. Jesus mostra-nos esta paciência misericordiosa de Deus, para sempre reencontrarmos confiança, esperança! Romano Guardini dizia que Deus responde à nossa fraqueza com a sua paciência e isto é o motivo da nossa confiança, da nossa esperança (cf. Glabenserkenntnis, Wurzburg 1949, p. 28).
3.Gostava de sublinhar outro elemento: a
paciência de Deus deve encontrar em nós a coragem de regressar a Ele,
qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado na nossa vida.
Jesus convida Tomé a meter a mão nas suas chagas das mãos e dos pés e na
ferida do peito. Também nós podemos entrar nas chagas de Jesus, podemos
tocá-Lo realmente; isto acontece todas as vezes que recebemos, com fé,
os Sacramentos. São Bernardo diz numa bela Homilia: «Por estas feridas
[de Jesus], posso saborear o mel dos rochedos e o azeite da rocha
duríssima (cf. Dt 32, 13), isto é, posso saborear e ver como o Senhor é
bom» (Sobre o Cântico dos Cânticos 61, 4). É precisamente nas chagas de
Jesus que vivemos seguros, nelas se manifesta o amor imenso do seu
coração. Tomé compreendera-o. São Bernardo interroga-se: Com que poderei
contar? Com os meus méritos? Mas «o meu mérito está na misericórdia do
Senhor. Nunca serei pobre de méritos, enquanto Ele for rico de
misericórdia: se são abundantes as misericórdias do Senhor, também são
muitos os meus méritos» (ibid., 5). Importante é a coragem de me
entregar à misericórdia de Jesus, confiar na sua paciência, refugiar-me
sempre nas feridas do seu amor. São Bernardo chega a afirmar: «E se
tenho consciência de muitos pecados? “Onde abundou o pecado,
superabundou a graça” (Rm 5, 20)» (ibid., 5). Talvez alguém possa
pensar: o meu pecado é tão grande, o meu afastamento de Deus é como o do
filho mais novo da parábola, a minha incredulidade é como a de Tomé;
não tenho coragem para voltar, para pensar que Deus me possa acolher e
esteja à espera precisamente de mim. Mas é precisamente por ti que Deus
espera! Só te pede a coragem de ires ter com Ele. Quantas vezes, no meu
ministério pastoral, ouvi repetir: «Padre, tenho muitos pecados»; e o
convite que sempre fazia era este: «Não temas, vai ter com Ele, que está
a tua espera; Ele resolverá tudo». Ouvimos tantas propostas do mundo ao
nosso redor; mas deixemo-nos conquistar pela proposta de Deus: a
proposta d’Ele é uma carícia de amor. Para Deus, não somos números;
somos importantes, antes, somos o que Ele tem de mais importante; apesar
de pecadores, somos aquilo que Lhe está mais a peito.Depois do pecado,
Adão sente vergonha, sente-se nu, sente remorso por aquilo que fez; e
todavia Deus não o abandona: se naquele momento começa o exílio longe de
Deus, com o pecado, também já existe a promessa do regresso, a
possibilidade de regressar a Ele. Imediatamente Deus pergunta: «Adão,
onde estás?» Deus procura-o. Jesus ficou nu por nós, tomou sobre Si a
vergonha de Adão, da nudez do seu pecado, para lavar o nosso pecado:
pelas suas chagas, fomos curados. Recordai-vos do que diz São Paulo: De
que poderei eu gloriar-me senão da minha fraqueza, da minha pobreza? É
precisamente sentindo o meu pecado, olhando o meu pecado que posso ver e
encontrar a misericórdia de Deus, o seu amor, e ir até Ele para receber
o seu perdão.
Na minha vida pessoal, vi muitas vezes o
rosto misericordioso de Deus, a sua paciência; vi também em muitas
pessoas a coragem de entrar nas chagas de Jesus, dizendo-Lhe: Senhor,
aqui estou, aceita a minha pobreza, esconde nas tuas chagas o meu
pecado, lava-o com o teu sangue. E sempre vi que Deus o fez: Deus
acolheu, consolou, lavou e amou.Amados irmãos e irmãs, deixemo-nos
envolver pela misericórdia de Deus; confiemos na sua paciência, que
sempre nos dá tempo; tenhamos a coragem de voltar para sua casa, habitar
nas feridas do seu amor deixando-nos amar por Ele, encontrar a sua
misericórdia nos Sacramentos. Sentiremos a sua ternura, sentiremos o seu
abraço, e ficaremos nós também mais capazes de misericórdia, paciência,
perdão e amor.
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