Dom Murilo S.R. Krieger, scj
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil
Neste domingo, por ser a solenidade da
Ascensão de Jesus ao céu, celebra-se, pela 47ª vez, o Dia Mundial das
Comunicações Sociais. A escolha da data tem a ver com a ordem que Jesus
deu aos discípulos, em sua despedida: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai
o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). Para cumprir essa ordem,
cada época usou os meios de comunicação que tinha à disposição. Hoje,
por exemplo, usam-se os meios que a moderna tecnologia põe à nossa
disposição como, por exemplo, a imprensa, o cinema, o rádio, a
televisão, a internet etc.
Como tema do dia das Comunicações deste
ano de 2013, foi escolhido: “Redes sociais: portais de verdade e de fé;
novos espaços de evangelização”. Trata-se de uma chamada de atenção para
a maneira como as pessoas se comunicam atualmente entre si. As redes
sociais digitais estão contribuindo para o aparecimento de uma grande
praça pública onde, a todo o momento, as pessoas trocam ideias,
informações e opiniões, não importando o lugar em que estejam. Vale
lembrar aqui uma observação que se lê num texto da CNBB: “Se o Mestre
Jesus fosse conduzido hoje ao deserto das tentações, possivelmente o
Tentador já não lhe ofereceria anacrônicos e decadentes reinos, para que
o adorasse, mas o espetacular e tremendo poder da moderna máquina de
comunicação, mais sutil e, por isso mesmo, imensamente mais eficaz para
dominar povos e nações.”
Com o aperfeiçoamento dos meios de
comunicação, aumenta a facilidade com que um maior número de pessoas tem
acesso aos benefícios do mundo globalizado; esse mundo, por sua vez, é
influenciado pelas idéias e valores que circulam a uma velocidade
incrível. É verdade que tais meios podem ser usados para o mal, para
difundir a mentira. Mesmo assim, é preciso vê-los como dons de Deus –
dons que podem criar laços de solidariedade entre as pessoas. O drama e
as necessidades de um desconhecido, de uma família ou de um povo entram
imediatamente em nossas casas, possibilitando-nos viver, de maneira
inimaginável tempos atrás, a recomendação do apóstolo Paulo:
“Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” (Rm
12,15).
As redes sociais tanto favorecem o
diálogo entre as pessoas como podem isolá-las num mundo virtual. Quando
há dialogo, respeito mútuo, cuidado pela privacidade, senso de
responsabilidade e empenho pela verdade, os laços de amizade crescem e
levam a uma profunda comunhão. Seria ingênuo não pensar também nos
desafios que nascem da popularização das redes sociais. Um deles é o
excesso de informações, as quais é difícil acompanhar e, mais difícil
ainda, dar-lhes unidade. Outro desafio é representado pela dificuldade
de se verificar a veracidade das inúmeras notícias que circulam. Quantas
pessoas têm seus nomes manchados por informações falsas, por calúnias
ou por maldosas insinuações, e se sentem incapazes de contradizê-las,
diante da rapidez com que a mentira corre o mundo! Quando não se
valoriza ou se respeita o outro, volta-se ao mundo das cavernas – isto
é, ao mundo em que, na visão do filósofo Hobbes, “o homem é o lobo do
homem”.
Quem se guia pela fé, valoriza a verdade
e partilha sua visão de Deus, do ser humano e do mundo. O
relacionamento com pessoas que não têm experiência religiosa nos faz
sentir a necessidade de alimentar, através da oração e da reflexão, a
nossa fé e o nosso espírito de partilha. E quando se constata que as
mensagens estão tocando corações, que a comunicação da Palavra de Deus
está levando a conversões, longe de nos vangloriarmos, precisamos
reconhecer humildemente que a graça divina tem uma força que não depende
de nós, mas daquele que é a sua fonte.
O mundo digital, por vezes tão estranho
para nós, adultos, é um imenso arsenal de ferramentas de apostolado.
Melhor do que ninguém, os jovens têm condições de usá-las. Preciso dizer
que confio neles, em sua criatividade e em sua capacidade de colocar em
prática, de modo novo, a ordem de Jesus: “Ide pelo mundo inteiro,
proclamai o Evangelho a toda a criatura”?...
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