Comissão
Brasileira Justiça e Paz (CBJP), organismo vinculado à CNBB, emitiu
nota ontem, 22, sobre a execução da Ação Penal 470. No texto, a Comissão
comenta as decisões da presidência do Supremo Tribunal Federal sobre
esta Ação Penal e repudia a “política de encarceramento em massa, que
penaliza especialmente negros e pobres”.
De
acordo com a nota, a Comissão entende ser necessário o imediato debate
acerca das situações do sistema prisional brasileiro, “atentado direto à
dignidade humana”.
"A CBJP tem a firme convicção de que as instituições não podem ser dependentes de virtudes ou temperamentos individuais”.
Leia a íntegra do texto:
Nota da Comissão Brasileira Justiça e Paz sobre a execução da Ação Penal 470
As
decisões proferidas pela Presidência do Supremo Tribunal Federal sobre a
execução da Ação Penal 470 (mensalão) que têm suscitado críticas e
preocupações na sociedade civil em geral e na comunidade jurídica em
particular, exigem o inadiável debate acerca das situações precárias,
desumanas e profundamente injustas do sistema prisional brasileiro.
A
Pastoral Carcerária, em recente nota, referiu-se à Justiça Criminal
como um “moinho de gastar gente” por causa de decisões judiciais que
levam a “condenações sem provas” e “negam a letra da lei” com
“interpretações jurídicas absurdas”. Inseriu, neste contexto, a situação
dos presos da Ação Penal 470 ao denunciar o conjunto do sistema
penitenciário, violento e perverso, que priva os apenados “dos cuidados
de saúde e de higiene mais básicos” e carece de políticas públicas para
sua inserção no mercado de trabalho.
A
Comissão Brasileira Justiça e Paz, organismo vinculado à CNBB, soma-se à
Pastoral Carcerária e “repudia” o conteúdo destas decisões, bem como a
política de encarceramento em massa, que penaliza especialmente negros e
pobres, com inúmeras práticas cruéis, estendidas aos familiares e
amigos dos presos, como a “revista vexatória”, atentado direto à
dignidade humana.
A
independência do Poder Judiciário somente realiza a necessária
segurança jurídica em sua plenitude, quando viabiliza sem obstáculos o
amplo direito de defesa e a completa isenção na análise objetiva das
provas. Ela é imprescindível na relação do Judiciário com os meios de
comunicação, não se podendo confundir transparência nos julgamentos com
exposição e execração pública dos réus.
A
CBJP tem a firme convicção de que as instituições não podem ser
dependentes de virtudes ou temperamentos individuais. Não é lícito que
atos políticos, administrativos e jurídicos levem a insuflar na
sociedade o espírito de vingança e de “justiçamento”. Os fatos aqui
examinados revelam a urgência de um diálogo transparente sobre a
necessária reforma do Judiciário e o saneamento de todo o sistema
prisional brasileiro.
Brasília, 22 de maio de 2014
Pedro Gontijo
Secretário Executivo da Comissão Brasileira Justiça e Paz da CNBB
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